Ler é algo maravilhoso, mas é difícil começar porque, diante de tantas opções, não sabemos qual escolher. Na maioria das vezes, nos deparamos com gostos diferentes do nosso e isso, de alguma forma, nos inibe de começar a ler.
Nas escolas nos indicam Iracema, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Mulato e alguns outros bons livro, mas que são chatos quando não pegamos o jeito de ler e abstrair o rebuscamento da época.
Por isso, decidimos criar este blog para indicar os livros que lemos, como os classificamos, fazer uma resenha, indicar sites para baixar livros, enfim, incentivar quem deseja iniciar uma boa leitura ou continuar nesse mundo de troca de informação tão brilhante.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Guardião de Memórias


Título: The Memory Keeper´s Daughter (O Guardião de Memórias)
Autor: Edwards, Kim
Tradução: Vera Ribeiro
Editora: Sextante
Ano: 2007


Esse domingo não foi um dia ensolado. A chuva que caiu aos poucos e insistentemente me fez ler as 360 páginas de O Guardião de Memórias. Ainda não sei se foi realmente a chuva que me fez lê-lo ou se uma profunda incerteza sobre a vida e uma vontade de apertar o botão de pausa sobre ela.

Certa noite com muita neve, Norah entra em trabalho de parto e David, seu marido e ortopedista, se vê obrigado a fazer o parto por falta de outro médico especialista. Após o nascimento do primeiro filho, Paul, David percebe que a gravidez é de gêmeos e traz ao mundo uma menina, Phoebe. Ao perceber traços de síndrome de Down em Phebe e lembrar de sua própria vida ao lado da irmã, que também foi portadora da síndrome e morreu cedo, deixando a mãe desconsolada, David resolve poupar Norah e Paul do sofrimento e entrega a filha para a enfermeira levar a um abrigo para crianças retardadas. Quando Norah acorda, David não consegue contar a verdade e diz que a criança nasceu morta. Caroline, a enfermeira, não consegue deixar a menina no abrigo e, agindo pela emoção de poder ser mãe, resolve fugir com Phoebe, deixando toda a vida vazia para trás.

A falta da filha e o eterno segredo de David, fez a família se desestruturar e cair em um mar de sofrimentos. Bree, a irmã de Norah era o único laço de alegria que pairava pela casa. No outro núcleo, o amor incondicional de Caroline por Phoebe fez a vida dela florir, além de trazer para ela o grande amor, Al e grandes amigos unidos pela necessidade de apoio e pela síndrome de down.

Durante a leitura achei o livro melancólico. A vida de Norah, usando a morte da filha como desculpa para não ser feliz; a vida de David, envolvido em seus próprios medos, único sentimento que o trazia vivo e fotografando o que não existia para se sentir melhor; a beleza de Paul escondida na culpa pela infelicidade dos pais. Eu queria mesmo era ler rápido ou pular as páginas só para sentir a alegria emanada por Phoebe,Caroline e Al a cada nova descoberta sobre a vida.

Hoje, fazendo essa resenha, percebi que a melancolia de Norah, David e Paul trouxeram à tona meus próprios medos e minha solidão e por isso os personagens me incomodaram tanto. A capacidade de Caroline em dispor a própria vida pelo próximo, me fez desejar o mesmo, uma vida de verdade onde o mundo fizesse sentido. A inquietude de Bree diante da vida e a eterna alegria, muitas vezes mascarando a solidão, me fez lembrar de momentos onde eu sorri para o mundo e desejei apenas não estar ali, naquele momento. As inúmeras fotografias de David me fez perceber em quantas fotos eu sorri, registrando viagens que jamais precisaria ter feito para encontrar o real significado da vida, fotos que joguei fora sem o menor constrangimento,assim como fez Norah.

Talvez por isso o livro seja bom. Não exatamente pela capacidade literária da autora e tradutora, mas pelo poder de elevar o psicológico e trazer uma real reflexão sobre o que é importante na vida, mostrando que amar e ser amado faz a diferença e que fugir de um problema nunca irá resolvê-lo. Quem foge jamais descobrirá que o problema era apenas uma porta para um lugar melhor.

Se é bom pra ler? Claro, principalmente em um dia melancólico com um pouco de chuva.

Obs. Para os menos pacientes, acabei de descobrir que existe o filme sobre o livro.