
Título: Carta entre Amigos.
Autor: Fábio de Melo e Gabriel Chalita
Editora: Ediouro
Ano: 2009
Muito difícil conceituar o livro Cartas entre Amigos. Parece ser de auto-ajuda, mas não é. Talvez de filosofia, mas também não é. Também não é um sermão religioso como muitos esperam. Nem pode-se dizer que é um livro, mas um conjunto de cartas trocadas entre dois amigos que decidem parar um pouco as atribulações da vida para dar atenção um ao outro. Na capa diz que é um livro para falar dos medos contemporâneos, eu não o definiria assim. A linguagem não é muito simples, é preciso atenção para lê-lo e, para os mais curiosos, ter um site de pesquisa ao lado é bom.
O encantamento do livro é justamente a não intenção de dar lição de moral. Os autores simplesmente falam o que sentem e usam a filosofia e a poesia para descrever seus pensamentos. Falam muito do amor. Aquele que surge de pedras, que supera perdas, que se doa ao próximo, o amor de Cristo. Fala do amor fast-food que vivemos hoje no mundo industrial e lembram que o amor é feito em fogo a lenha, onde temos que constantemente buscar o combustível desse amor.
Vários sentimentos são citados em carta, sempre interligando um ao outro, sempre trazendo o amor como parte da solução. É difícil descrever todos os temas abordados, eles se misturam, vão e voltam e se completam. Muitas vezes o que Gabriel escrevia parecia ter vindo de mim, é ele quem quase sempre traz a dúvida e Fábio a serenidade. Gabriel é a chama, Fábio a razão que controla a emoção. Os dois se completam em cartas emocionadas e cheias de poesia.
Algumas passagens foram marcantes para mim:
- A história de Cora Coralina que, apesar da vida cheia de problemas, transformou tudo em amor e poesia.
- A citação de Gabreil sobre a paixão onde, por insistirmos em uma flor, deixamos de ver e cuidar de outras flores em nosso jardim.
- A busca pela liberdade, o mal que fazemos em prender o amor por medo de perdê-lo.
- O vazio do mundo que levam os jovens à drogas e qual o papel dos pais nesse contexto.
- A limpeza dos nosso museu interior para que a próxima pessoa a entrar nele encontre o passado limpo e organizado, seja ele bom ou ruim.
- A passagem do mar vermelho, mostrando que a fé para existir precisa que o homem acredite e dê o primeiro passo.
- A força que se mostra na fragilidade de Madre Tereza.
São tantos assuntos, muitos sem resposta. Na verdade, não é a intenção dar respostas e isso é bom. Confesso que chorei na última carta quando o Pe. Fábio fala da força que vem da fragilidade. Chorei porque percebi que é nos meus momentos mais frágeis que ganho força para mudar minha vida. É na fragilidade do próximo que ganho forças para ajudá-lo. Percebi que não sou fraca, apenas frágil e que isso não é defeito, é um jeito de ser. Pensei na minha fé e vi que preciso entrar no mar para que Deus possa abri-lo. Chorei, pedi perdão e desejei lavar os pés de Cristo com minhas lágrimas.
O livro sozinho não traria tantos sentimentos, ele o fez porque resolvi lê-lo num momento difícil e importante de minha vida. Talvez, dentre tantos assuntos, algum tenha importância na sua vida nesse momento. Cada carta traz à tona um fantasma a ser vencido. Cada palavra uma reflexão sobre a vida. Terminei o livro desejando um amigo para escrever-lhe cartas sobre a vida. Terminei o livro certa de que posso ser mais do que sou, mas que já sou mais do que imagino. Tive a certeza que posso lê-lo novamente, em outros momentos, e encontrar outros confortos.