Ler é algo maravilhoso, mas é difícil começar porque, diante de tantas opções, não sabemos qual escolher. Na maioria das vezes, nos deparamos com gostos diferentes do nosso e isso, de alguma forma, nos inibe de começar a ler.
Nas escolas nos indicam Iracema, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Mulato e alguns outros bons livro, mas que são chatos quando não pegamos o jeito de ler e abstrair o rebuscamento da época.
Por isso, decidimos criar este blog para indicar os livros que lemos, como os classificamos, fazer uma resenha, indicar sites para baixar livros, enfim, incentivar quem deseja iniciar uma boa leitura ou continuar nesse mundo de troca de informação tão brilhante.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Saber Envelhecer: Seguido de a Amizade

Sábado, num daqueles momentos nada pra fazer, resolvi revirar livros a procura de algo que ainda não tivesse lido(pois é, compro e deixo lá para ser lido posteriormente). Dentre alguns livros encontrei esse aí ao lado, Saber Envelhecer, que comprei em um mercado a R$10,00, e resolvi lê-lo.
Título: Saber Envelhecer, seguido de A Amizade.
Autoria: MARCO TULIO CÍCERO
Tradução: Paulo Neves
Ano: 44 a. c. (isso mesmo, antes de Cristo)
Detalhes do autor: http://www.lpm.com.br/lpm-po63.htm

A grata Surpresa

Já li o primeiro texto, que, embora pequeno, me deu bastante trabalho e prazer.
Trabalho porque a linguagem é relativamente rebuscada no início e muitos nomes da história antiga são citados, indicando seus feitos.
Prazer por diversos motivos: A L&PM Pocket teve o cuidado de comentar as partes históricas importantes; a linguagem é bonita de ler; o conteúdo é extremamente sábio.

Cícero, político influente, jurista, orador e filósofo descreve um momento onde Catão, o velho, é solicitado a falar ao seus amigos mais jovens, Cipião e Gaio Lélio, sobre a arte de envelhecer. No texto, Cícero fala muito sobre a velhice e como podemos vivê-la da melhor maneira possível, buscando, aplicando e passando conhecimentos e cuidando da saúde. Também deixa claro o papel do velho nas decisões do senado.

Durante o texto, Cícero cita 04 razões que levam as pessoas a acharem a vida detestável e desmistifica cada uma delas.
1)Ela nos afasta da vida ativa.
Uma mente bem trabalhada pode ser útil a vida toda. Por isso, buscar conhecimento é sempre importante. Os velhos precisam estar presentes para conter a fúria dos jovens cheios de idéias, tornando as decisões mais sensatas.
2)Ela enfraqueceria o nosso corpo.
O enfraquecimento do corpo ocorre com a velhice, mas também ocorre em diversas fases da vida. Velhice não caracteriza doença, portanto é possível envelhecer com saúde se cuidarmos do nosso corpo e mente.
3)Ela nos priva dos melhores prazeres.
O prazer sexual é típico dos jovens e, felizmente a velhice perde esse interesse sem saudades. Desta forma, resta o conhecimento adquirido, o cuidado com a terra, as boas conversas e os conselhos. O prazer sexual cega o homem e o leva a traições e guerras.
O prazer de comer muito não é permitido aos velhos, mas é permitido comer pouco e devagar, saboreando um bom vinho ou um bom prato enquanto as conversas são colocadas à mesa. Um prazer maior que a própria alimentação.
A voz de um velho já não é tão forte, mas se torna mais bonita. Um velho sábio falando pausadamente e firmemente é a explanação da sabedoria.
4)Ela nos aproxima da morte.
Se um jovem pode morrer a qualquer tempo, então a morte não é um problema da velhice. Não se tem medo da morte se a vida for vivida em plenitude, de forma a deixar boas marcas para o mundo. O corpo morre, mas a alma é imortal. Por isso o homem se preocupa com seus feitos no mundo, para que sua alma permaneça viva na memória das pessoas. De qualquer forma, tendo ou não a alma viva após a morte, deixar de existir não é algo ruim se deixamos boas marcas durante a vida.

Em geral, Cícero deixa claro que saber envelhecer é algo muito próximo de saber viver. Melhor é morrer de velhice, pois quem nos deu a vida irá tirá-la aos poucos da mesma forma que veio. Conhecimento adquirido, grandes feitos para a humanidade e uma boa saúde são formas de ter uma velhice digna e feliz. A velhice é um fato que não podemos evitar, então devemos aceitá-la, ou seja, nem negar e nem desejar que venha antes da hora.

Importante: Percebe-se claramente que os velhos eram tidos como sábios e suas palavras eram muito importante na tomada de decisões. Talvez devamos reaprender a respeitar e ouvir os mais velhos.

Veja o que fala sobre o texto um estudo sobre a velhice:
http://www.miniweb.com.br/Cantinho/3_idade/artigos/envelhecimento_filosofia1.html

"

No primeiro século antes da Era Cristã, Marco Túlio Cícero (103-43 a.C.), o grande filósofo romano, político, jurista e orador demonstrou-se uma figura exponencial nos estudos sobre a velhice. Aos 63 anos de idade, senador da república, escreveu o livro De senectude - Catão, o velho. Nele resume sua visão de envelhecimento, enquanto um processo fisiológico, relata os problemas dos idosos quanto à perda da memória, perda da capacidade funcional, as alterações dos órgãos dos sentidos, a perda da capacidade de trabalho. Salienta que, com o envelhecimento, os prazeres corporais vão sendo substituídos pelos intelectuais, enfatizando a necessidade de prestigiar-se os idosos e de fazer-lhes um preparo psicológico para a morte. Pude entender que Cícero retorna, em seus escritos, algumas passagens descritas na República, de Platão.

Cícero foi um otimista diante do fator fisiológico da velhice e aconselhava o cuidado corporal e mental, a escolha de prazeres adequados, de atividades que tragam benefícios individual e coletivo, desde que estejam ao alcance das forças dos idosos. Para esse filósofo, a arte de envelhecer compreende em encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm as suas virtudes. Chamo à atenção que, essa aprendizagem da arte de saber envelhecer não deve ser ligada ao individual, pois a superação dos obstáculos a uma velhice feliz vai buscar no social suas razões de ser.

Em De Senectude, Cícero (1999) descreve a conversa entre o velho Catão e os jovens Cipião e Gaio Lélio, estes rapazes interpelam Catão sobre os agravos e as vantagens da velhice. Catão, senador e ser humano muito respeitado por seus pares, com mais de 80 anos, fala do envelhecimento de uma forma clara, concreta, procurando criticar os preconceitos que pairam sobre os idosos e lembrando que sempre quando os Estados viram-se arruinados pelos os jovens, foram os idosos que os restauraram. Na verdade, fica claro que o maior interesse de Cícero, ao escrever De Senectude é defender a velhice para provar que a autoridade de Senado, há muito abalada, deve ser reforçada.

Para Cícero (1999) não se deve atribuir à velhice todas as lamentações da vida; quem muito se lamenta, para ele, faz isto em todas as idades do processo de viver, pois os seres humanos inteligentes sempre tentam afastar o temperamento triste e a rabugice em qualquer idade. Acrescenta ainda que são quatro as razões detestáveis da velhice: o fato desta fase afastar o ser humano da vida ativa; a constatação de que ela enfraquece o corpo; a condição de privar-nos dos melhores prazeres e a aproximação com a morte. Em seguida ele passa a contestar cada uma dessas razões, trazendo como exemplos figuras e situações conhecidas da época. Também é de Cícero a célebre frase comentando a existência de seres humanos que, como alguns vinhos, envelhecem sem azedar-se.
Eu completo que, sendo o envelhecimento um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais, estas se configuram em novas situações vivenciadas pelo ser humano e que a presença “desse novo”, muitas vezes pode representar o inusitado e a expansão de capacidades inovadoras e prazerosas para o idoso.
"