Título: Saber Envelhecer, seguido de A Amizade.
Autoria: MARCO TULIO CÍCERO
Tradução: Paulo Neves
Ano: 44 a. c. (isso mesmo, antes de Cristo)
Detalhes do autor: http://www.lpm.com.br/lpm-po63.htm
A grata Surpresa
Já li o primeiro texto, que, embora pequeno, me deu bastante trabalho e prazer.
Trabalho porque a linguagem é relativamente rebuscada no início e muitos nomes da história antiga são citados, indicando seus feitos.
Prazer por diversos motivos: A L&PM Pocket teve o cuidado de comentar as partes históricas importantes; a linguagem é bonita de ler; o conteúdo é extremamente sábio.
Cícero, político influente, jurista, orador e filósofo descreve um momento onde Catão, o velho, é solicitado a falar ao seus amigos mais jovens, Cipião e Gaio Lélio, sobre a arte de envelhecer. No texto, Cícero fala muito sobre a velhice e como podemos vivê-la da melhor maneira possível, buscando, aplicando e passando conhecimentos e cuidando da saúde. Também deixa claro o papel do velho nas decisões do senado.
Durante o texto, Cícero cita 04 razões que levam as pessoas a acharem a vida detestável e desmistifica cada uma delas.
1)Ela nos afasta da vida ativa.
Uma mente bem trabalhada pode ser útil a vida toda. Por isso, buscar conhecimento é sempre importante. Os velhos precisam estar presentes para conter a fúria dos jovens cheios de idéias, tornando as decisões mais sensatas.
2)Ela enfraqueceria o nosso corpo.
O enfraquecimento do corpo ocorre com a velhice, mas também ocorre em diversas fases da vida. Velhice não caracteriza doença, portanto é possível envelhecer com saúde se cuidarmos do nosso corpo e mente.
3)Ela nos priva dos melhores prazeres.
O prazer sexual é típico dos jovens e, felizmente a velhice perde esse interesse sem saudades. Desta forma, resta o conhecimento adquirido, o cuidado com a terra, as boas conversas e os conselhos. O prazer sexual cega o homem e o leva a traições e guerras.
O prazer de comer muito não é permitido aos velhos, mas é permitido comer pouco e devagar, saboreando um bom vinho ou um bom prato enquanto as conversas são colocadas à mesa. Um prazer maior que a própria alimentação.
A voz de um velho já não é tão forte, mas se torna mais bonita. Um velho sábio falando pausadamente e firmemente é a explanação da sabedoria.
4)Ela nos aproxima da morte.
Se um jovem pode morrer a qualquer tempo, então a morte não é um problema da velhice. Não se tem medo da morte se a vida for vivida em plenitude, de forma a deixar boas marcas para o mundo. O corpo morre, mas a alma é imortal. Por isso o homem se preocupa com seus feitos no mundo, para que sua alma permaneça viva na memória das pessoas. De qualquer forma, tendo ou não a alma viva após a morte, deixar de existir não é algo ruim se deixamos boas marcas durante a vida.
Em geral, Cícero deixa claro que saber envelhecer é algo muito próximo de saber viver. Melhor é morrer de velhice, pois quem nos deu a vida irá tirá-la aos poucos da mesma forma que veio. Conhecimento adquirido, grandes feitos para a humanidade e uma boa saúde são formas de ter uma velhice digna e feliz. A velhice é um fato que não podemos evitar, então devemos aceitá-la, ou seja, nem negar e nem desejar que venha antes da hora.
Importante: Percebe-se claramente que os velhos eram tidos como sábios e suas palavras eram muito importante na tomada de decisões. Talvez devamos reaprender a respeitar e ouvir os mais velhos.
Veja o que fala sobre o texto um estudo sobre a velhice:
http://www.miniweb.com.br/Cantinho/3_idade/artigos/envelhecimento_filosofia1.html
"
No primeiro século antes da Era Cristã, Marco Túlio Cícero (103-43 a.C.), o grande filósofo romano, político, jurista e orador demonstrou-se uma figura exponencial nos estudos sobre a velhice. Aos 63 anos de idade, senador da república, escreveu o livro De senectude - Catão, o velho. Nele resume sua visão de envelhecimento, enquanto um processo fisiológico, relata os problemas dos idosos quanto à perda da memória, perda da capacidade funcional, as alterações dos órgãos dos sentidos, a perda da capacidade de trabalho. Salienta que, com o envelhecimento, os prazeres corporais vão sendo substituídos pelos intelectuais, enfatizando a necessidade de prestigiar-se os idosos e de fazer-lhes um preparo psicológico para a morte. Pude entender que Cícero retorna, em seus escritos, algumas passagens descritas na República, de Platão.
Cícero foi um otimista diante do fator fisiológico da velhice e aconselhava o cuidado corporal e mental, a escolha de prazeres adequados, de atividades que tragam benefícios individual e coletivo, desde que estejam ao alcance das forças dos idosos. Para esse filósofo, a arte de envelhecer compreende em encontrar o prazer que todas as idades proporcionam, pois todas têm as suas virtudes. Chamo à atenção que, essa aprendizagem da arte de saber envelhecer não deve ser ligada ao individual, pois a superação dos obstáculos a uma velhice feliz vai buscar no social suas razões de ser.
Em De Senectude, Cícero (1999) descreve a conversa entre o velho Catão e os jovens Cipião e Gaio Lélio, estes rapazes interpelam Catão sobre os agravos e as vantagens da velhice. Catão, senador e ser humano muito respeitado por seus pares, com mais de 80 anos, fala do envelhecimento de uma forma clara, concreta, procurando criticar os preconceitos que pairam sobre os idosos e lembrando que sempre quando os Estados viram-se arruinados pelos os jovens, foram os idosos que os restauraram. Na verdade, fica claro que o maior interesse de Cícero, ao escrever De Senectude é defender a velhice para provar que a autoridade de Senado, há muito abalada, deve ser reforçada.
Para Cícero (1999) não se deve atribuir à velhice todas as lamentações da vida; quem muito se lamenta, para ele, faz isto em todas as idades do processo de viver, pois os seres humanos inteligentes sempre tentam afastar o temperamento triste e a rabugice em qualquer idade. Acrescenta ainda que são quatro as razões detestáveis da velhice: o fato desta fase afastar o ser humano da vida ativa; a constatação de que ela enfraquece o corpo; a condição de privar-nos dos melhores prazeres e a aproximação com a morte. Em seguida ele passa a contestar cada uma dessas razões, trazendo como exemplos figuras e situações conhecidas da época. Também é de Cícero a célebre frase comentando a existência de seres humanos que, como alguns vinhos, envelhecem sem azedar-se.
Eu completo que, sendo o envelhecimento um conjunto de alterações biológicas, psicológicas e sociais, estas se configuram em novas situações vivenciadas pelo ser humano e que a presença “desse novo”, muitas vezes pode representar o inusitado e a expansão de capacidades inovadoras e prazerosas para o idoso. "
3 comentários:
Estou precisando da ajuda dos amigos, vai lá em casa que no post você vai entender.
Se quiser é só clicar AQUI.
Obrigada,
Beijocas
Cara Geovana,
Estava procurando informações sobre o livro de Cícero quando encontrei seu interessante blog.Li e recomendo esta página.Vou escrever algo sobre a velhice (acabo de me aposentar aos 61)e iniciei um blog denominado Kairós-Minhas Horas Feriadas (http://kairos-minhashorasferiadas.blogspot.com/) onde postarei comentários sobre livros, cinema etc.Estou em Mossoró-RN.Abraços
Velhos, é uma palavra ta fora de contexto. Velho quer dizer fora de propósito, ultrapassado. Mas aonde que a sabedoria é ultrapassada? Apesar de não a reconhecermos logo de ínicio, com certeza ela é o ponto final de onde chegamos ou seja o nosso destino e futuro. Deviam inventar uma palavra melhor pra designar sabedoria que é típica de pessoas mais vividas.
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